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Ludmilla passa susto em avião após falha técnica e pouso de emergência
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Jovem chora ao saber que será julgado como adulto por homicídio nos EUA
25/02/2025(FOLHAPRESS) – O uso de alguns antidepressivos pode agravar o quadro de demência em pacientes idosos, aponta um estudo realizado na Suécia com mais de 18 mil indivíduos. Em particular, os resultados indicam que os inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS, do inglês “selective serotonin reuptake inhibitors”), como o escitalopram, estão associados a uma aceleração do declínio cognitivo.
Estudos anteriores já haviam buscado avaliar a segurança do uso de antidepressivos em pacientes com quadros de neurodegeneração. Algumas pesquisas sugerem um impacto positivo desses medicamentos na redução dos biomarcadores da demência, embora os resultados até então fossem inconsistentes.
A professora emérita da Universidade Federal Fluminense, Vilma Câmara, afirma que a neurodegeneração e a depressão podem estar relacionadas. Segundo ela, pacientes que apresentam humor deprimido ao longo da vida e não conseguem uma cura podem desenvolver demência na velhice.
A especialista ressalta ainda que a depressão pode ocasionar sintomas de perda de cognição, como o esquecimento. Por esse motivo, em estágios iniciais, é comum que os profissionais prescrevam antidepressivos na tentativa de eliminar essa possível causa subjacente.
No novo estudo sueco, os autores destacam que alguns pacientes recebem a prescrição desses medicamentos para tratar sintomas comportamentais e psicológicos da demência, os quais podem ser confundidos com episódios depressivos. Para esses casos, o estudo desaconselha o uso dos remédios, pois o tratamento não estaria direcionado à causa subjacente dos sintomas.
Os resultados foram obtidos a partir de uma pesquisa com dados de quase 19 mil pessoas, com idade média de 78 anos, incluídas em uma coorte. Todos os participantes, recém-diagnosticados com demência, receberam a prescrição de antidepressivos pela primeira vez até seis meses antes do diagnóstico da doença. Eles foram monitorados entre 2007 e 2018, com avaliações de sua função cognitiva por meio de exames realizados, em média, a cada quatro anos.
Na coorte, os ISRS foram prescritos para seis em cada dez participantes, sendo estes os antidepressivos mais populares entre os diversos tipos disponíveis. Os dados apontam uma correlação significativa entre doses mais altas desses remédios e o aumento dos quadros de demência grave entre os pacientes. O estudo foi publicado na prestigiada revista científica BMC Medicine.
Além disso, os pesquisadores constataram que há maior risco de fraturas e mortalidade geral entre pacientes com demência que utilizaram essa classe de antidepressivos. Segundo os autores, contudo, os ISRS não podem ser associados diretamente ao aumento do declínio cognitivo com base apenas nos dados analisados.
Entre as limitações do estudo, os pesquisadores apontam que a análise pode ter sido subdimensionada. A gravidade da demência em cada paciente pode contribuir individualmente para o declínio cognitivo, sem que se possa atribuí-lo com certeza ao medicamento.
De acordo com especialistas, é fundamental buscar um diagnóstico preciso para promover o tratamento adequado. No Brasil, o diagnóstico da demência é realizado, majoritariamente, de forma clínica, conforme explica Kleber Francisco Vargas, psiquiatra vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares e ao hospital universitário de Campo Grande. Para tanto, é fundamental passar por uma avaliação neuropsicológica, que analisa as diversas funções cerebrais.
Os dados de uma anamnese abrangente são complementados por exames de sangue, que ajudam a descartar outras causas de demência; de imagem, como a ressonância magnética do crânio; e por testes de espectroscopia, que avaliam a presença de determinadas proteínas no organismo.
O tratamento envolve intervenções tanto medicamentosas quanto não medicamentosas. Entre os fármacos utilizados, os anticolinesterásicos se destacam por ajudar a retardar o avanço da doença. Nos avanços mais recentes, os antiamiloides, aprovados pela agência sanitária americana entre 2021 e 2024, surgem como uma novidade, embora ainda não sejam utilizados no Brasil.
Por outro lado, para preservar a reserva cognitiva, é importante que os pacientes pratiquem atividades físicas, mantenham uma boa alimentação e se participem de trabalhos biopsicossociais de reabilitação cognitiva, com o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar que inclua, entre outros, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas.
Entre os estudos que investigaram os efeitos dos antidepressivos em pacientes com demência, destaca-se um trabalho publicado na revista científica Alzheimer’s & Dementia, que acompanhou 5,5 mil holandeses por um período de dez anos ou mais. Todos os participantes ingressaram no estudo sem sinais de perda de cognição, e seu histórico de uso dessas drogas foi analisado por meio de registros de farmácia.
Embora os resultados tenham indicado que a neurodegeneração foi um pouco maior com antidepressivos tricíclicos do que com os ISRS, o estudo conclui que não há evidências suficientes para associar o uso dessas drogas ao risco de demência, ao declínio cognitivo acelerado ou à atrofia cerebral.
Outro trabalho, de revisão sistemática e meta-análise, realizado por pesquisadores da Alemanha e da Suíça e divulgado no ano passado, demonstra que os antidepressivos também não promovem efeitos positivos na saúde desses pacientes. Entre os mais de 27 mil artigos científicos analisados, não foram encontradas evidências satisfatórias de que essas drogas possam melhorar o estado cognitivo, a qualidade de vida ou a funcionalidade na população idosa com demência.
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