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09/04/2025FERNANDA PERRIN
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Donald Trump trucou o mundo com o tarifaço. A China comprou a briga. Os americanos dobraram -literalmente, quase- a aposta. Pequim bancou.
A postura combativa dos chineses, conhecidos por seu pragmatismo, vem de uma aposta de que têm mais fôlego político e econômico do que Washington para aguentar uma guerra comercial prolongada.
A visão é de Yi Shin Tang, professor de relações internacionais da Universidade de São Paulo especializado em comércio internacional e direito internacional econômico.
Nesta quarta-feira (9), os americanos iniciam uma tarifa de 104% sobre importações chinesas. Em resposta, a China impôs uma tarifa de 84%.
“Geralmente, em guerras comerciais, a discussão é quem tem o bolso mais fundo para aguentar. Todo mundo fala ‘Estados Unidos’, só que tem que ser analisado quem tem, digamos, maior fôlego político, para aguentar um longo período de recessão, caso isso se intensifique”, diz em entrevista à reportagem.
Nesse cenário, bancar a briga significaria estar disposto a sacrificar o bem-estar da própria população. “Quem é que responde democraticamente a uma crise econômica?”, questiona Tang.
Para o professor, é possível que a guerra comercial se estenda até eleições americanas que mostrem um enfraquecimento de Trump -ou ao menos esse parece ser o cálculo de Pequim. Pleitos estaduais, eleição de juízes e a renovação do Congresso no próximo ano, quando a maioria republicana poderá ser eliminada, seriam esses termômetros.
A estratégia é deixar para negociar um acordo com uma Casa Branca fragilizada para conseguir impor condições mais favoráveis a Pequim.
“Agora, se o Trump realmente ganhar mais capital político, se for percebido pela população americana como um defensor de interesse nacional, acho que a China volta a uma situação pragmática”, avalia Tang. “Os Estados Unidos também não são o único fator de cálculo político da China. Há a Europa, toda a região asiática que a China coloca como prioritária.”
Do lado americano, a lógica é empresarial. “Trump enxerga toda essa dinâmica global como uma negociação entre CEOs. Ele vai apostando até ver onde a corda estica. Claro que isso não necessariamente funciona em uma negociação entre estados, mas é a visão que ele tem tentado impor nessa relação com a China”, avalia.
No curto prazo, as cadeias mais afetadas devem ser as de insumos básicos, siderurgia e químicos -não apenas na China e nos EUA, mas globalmente. A tendência é que, se Washington se fechar a Pequim, as exportações precisarão escoar para outros mercados. O Brasil, por exemplo, pode ser invadido por produtos de base.
Outras cadeias vulneráveis são as de semi-industrializados e de semi-acabados, componentes de produtos de alto valor tecnológico final, como celulares e carros. O tarifaço pode não só encarecer os produtos, como até causar interrupções na cadeia ou situações de desabastecimento, diz Tang.
Para além da China, outros parceiros comerciais importantes dos EUA, como a União Europeia, a Coreia do Sul e o Japão, estão na lista de países que sofrerão uma taxação maior a partir desta quarta.
Nos últimos dias, muitos deles procuraram a Casa Branca para negociar um acordo. A questão que ainda não está clara é como eles conseguirão reagir de uma forma coordenada, avalia o professor.
Se por um lado países como Canadá e Brasil têm buscado outras parcerias, ainda não está claro como as maiores economias poderiam se aliar.
“O mundo ideal seria os dois grandes players restantes [para além dos EUA], União Europeia e China, terem um acordo comum de coordenação para reagir a esse player que deixou de ser confiável, certo? O problema é que Europa e China também têm os seus problemas [entre si]. Esse é um dos fatores que torna o cenário cada vez mais incerto, porque mesmo entre aqueles que deveriam cooperar, não há muitos incentivos para a cooperação”, diz.
Fonte: Notícias ao Minuto Read More