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08/05/2025(FOLHAPRESS) – Em um tribunal, a juíza e a advogada de defesa batem boca. Seria uma cena normal em qualquer julgamento, não fosse o tema tratado entre as partes: botox e preenchimento.
A testemunha, espremida no meio da batalha, ouve a advogada ler mensagens descabidas, porque tratam de frivolidades dermatológicas, o que faz a sessão se arrastar. Em tom de “educada intolerância”, a juíza passa o pito e adianta o clima do julgamento que condenaria a deputada federal e pastora Flordelis por mandar assassinar o próprio marido.
Marcado a princípio para 9 de maio de 2022, o julgamento sofreu vários adiamentos e só começou efetivamente em 7 de novembro daquele ano. Os sete dias a partir desta data são o objeto de “O Julgamento de Flordelis: A História de uma Família Brasileira”, livro escrito por Paulo Sampaio, jornalista de 62 anos de idade e 40 de carreira.
Sampaio acompanhou todas as sessões nas quais foram julgados cinco réus, ouvidas 24 testemunhas, em uma disputa entre três promotores de Justiça, um auxiliar de acusação e três advogados de defesa acompanhados de seis assistentes.
“Todo mundo querendo falar muito”, lembra Sampaio, em entrevista. Definido na orelha do livro como um “especialista em mundanidade”, ele conta que já cobriu “de festas de sociedade a posses de presidentes, de Olimpíadas a batizado de cachorro”. Passou por redações de veículos como a Folha, O Estado de S. Paulo e UOL.
Para criar a nova obra, ele fez uma apuração de dois anos e meio na qual o ponto alto foi ler as 43 mil páginas do processo e frequentar o tribunal ao longo da semana em que o julgamento se desenrolou.
Paralelo a isso, o autor ouviu cerca de 40 pessoas e procurou todos os envolvidos, conversando com aqueles que se dispuseram a recebê-lo. Flordelis, no entanto, que o interessava acima de tudo, ficou de fora da lista.
“Soube pelo noticiário que ela havia fechado um vultoso contrato de exclusividade com a HBO, que produziu uma série sobre a história. Na ocasião, ninguém da plataforma negou a informação”, diz. No livro, Sampaio especifica quão vultoso o acordo era: R$ 400 mil.
“De qualquer maneira, a parte mais importante do livro é o julgamento em si. Parto do factual, evidentemente, até para que o leitor entenda como se chegou ao tribunal. Mas o livro é feito da observação do que os advogados chamam de teatro do júri criminal”, explica.
Em cartaz, neste caso, estava a história do assassinato do pastor Anderson do Carmo de Souza, 42, morto a tiros na garagem de casa, em Niterói, na madrugada de 16 de junho de 2019, quando chegava de um passeio ao Rio com a mulher, Flordelis dos Santos de Souza.
A princípio, Flordelis tentou convencer a polícia de que houve um roubo seguido de morte. “A ideia de forjar um latrocínio foi dela própria. Surgiu em tentativas anteriores de executar o marido. De acordo com a Polícia Civil e o Ministério Público, a pastora já teria proposto a um filho adotivo desfavorecido, que tinha envolvimento com o tráfico, matar o pai. Ele não topou”, conta Sampaio.
“No dia do crime, ela recuperou o termo, considerado muito técnico para ser mencionado por alguém que perdeu um ente tão amado, para afastar eventuais suspeitas que recaíssem sobre familiares. A versão foi descartada no mesmo dia, com a análise das imagens registradas pelo departamento de trânsito da cidade.”
Menos de 48 horas depois do assassinato, dois filhos de Flordelis estavam presos, e ao fim da semana ela própria foi apontada como mentora intelectual do crime. Terminou submetida a um júri popular, depois de ser cassada do mandato de deputada e perder o foro especial.
“O Julgamento de Flordelis” é um livro de quase 500 páginas com a descrição detalhada do que aconteceu a portas fechadas na sala de julgamento e também das adjacências do tribunal, incluindo o restaurante a quilo onde parte considerável dos frequentadores do processo almoçava.
Sampaio capricha nos detalhes ao remontar o plenário, incluindo a ambientação e o jeito de agir e se vestir dos advogados -“as lágrimas lhe escorriam pelo rosto e pingavam em sua calça skinny”, escreve.
Ali, a grande estrela do julgamento aparece diferente da figura exuberante que se apresentava aos fiéis e fãs, segundo Sampaio. “Quando foi sua vez de falar, soou exagerada, caricata e inconvincente. Depois de uma semana ouvindo todo tipo de acusação, sem poder se manifestar, ela parecia esgotada. Um jurado chegou a perguntar se o choro dela era real. Ninguém ali resistia à oportunidade de ser cruel.”
Ao contrário de obras de “true crime” lançadas em livro e vídeo sobre o caso da pastora, “O Julgamento de Flordelis” se apoia não nos pormenores sangrentos do acontecido, mas na dinâmica humana possível a uma obra “de tribunal”. E nisso, diz o autor, há uma infinidade de possibilidades narrativas.
“As idiossincrasias do Judiciário, o apelo ordinário a Deus, a indigência cultural, a miséria do choro seco, as emoções reais, o psiquiatra desgovernado, o crônico problema de áudio e vídeo da tecnologia que dava suporte no tribunal”, enumera.
“Acredito que isso leva o leitor a enxergar melhor as cenas e o aproxima dos personagens da história. Agora, no caso específico do julgamento de Flordelis, a realidade é tão fabulosa que, em muitos momentos, afrontaria a ficção mais criativa.”
O JULGAMENTO DE FLORDELIS: A HISTÓRIA DE UMA FAMÍLIA BRASILEIRA
– Preço R$ 119,90 (496 págs.); R$ 84,90 (ebook)
– Autoria Paulo Sampaio
– Editora Todavia
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Fonte: Noticias ao Minuto Read More