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14/05/2025CANNES, FRANÇA (FOLHAPRESS) – Quando recebeu a Palma de Ouro honorária na cerimônia de abertura do Festival de Cannes, nesta terça-feira, Robert De Niro sentiu que, mais do que uma homenagem, aquele era um momento de responsabilidade. O ator de 81 anos usou seus minutos no centro do palco Louis Lumière, o mais glamuroso do festival, para defender a democracia e denunciar Donald Trump pela imposição de tarifas sobre filmes e cortes ao setor cultural americano.
“Espero que tenha algum impacto. As pessoas precisam protestar para parar o que está acontecendo”, diz De Niro em entrevista, nesta quarta, sem sua gravata borboleta e mais relaxado, sentado de costas para o mar mediterrâneo, no Palácio dos Festivais. “Trump é um valentão. Não se pode deixar o valentão ganhar. Se na segunda-feira ele te força a dar os 25 centavos do lanche, depois ele volta para mais porque sabe que vai se dar bem.”
Na semana passada, o presidente americano taxou em 100% filmes gravados fora dos Estados Unidos, decisão que veio na esteira de vários decretos para cortar verbas federais a museus e bibliotecas. O descontentamento popular é o único artifício que poderia obrigar Trump a recuar, segundo o ator, o que o levou a usar o momento mais glamuroso do festival, na noite anterior, para falar sobre a importância da arte.
“A arte é crucial para juntar as pessoas. É uma forma de verdade, ela abraça a diversidade, e por isso é uma ameaça para autocratas e fascistas”, disse na ocasião. “Você não pode colocar um preço na criatividade. Não podemos apenas sentar e assistir, como em um filme. Precisamos reagir imediatamente.”
“A maior parte do país não quer um governo autoritário e só não entendia no que estava votando. Ou, ainda, nem foram votar”, reflete, agora, sobre suas palavras da noite anterior. “É importante inspirar as pessoas a lutarem. A América é isso: veja os westerns, com os xerifes versus os bandidos.”
Entre as preocupações da indústria em relação às tarifas está a de que muitos filmes dirigidos por americanos fora do país terão mais dificuldade comercial, assim como longas independentes de diretores que almejam ser exibidos em cinemas dos Estados Unidos. O cenário é bem diferente da autonomia que De Niro viveu nos anos 1960 e 1970, época em que diretores como Martin Scorsese, que ele carinhosamente chama de Marty, puderam reinventar as normas do cinema.
“Nós nem tínhamos noção, só fazíamos o que queríamos fazer”, diz. “Quando eu era jovem ator, tinham alguns poucos filmes independentes e a televisão. Mas para fazer televisão era preciso ir para a Califórnia e se comprometer com um contrato de sete anos, o que é muito tempo de carreira.”
O streaming, segundo ele, não facilitou a vida dos atores, e hoje ainda há muitas boas histórias que não têm a atenção que deveriam. Diferente de quando fala de política, ele é sucinto para falar sobre sua vida pessoal. Em uma conferência que atendeu mais tarde, deu trabalho ao artista JR, que tentou fazê-lo falar sobre a relação com o seu pai para um auditório lotado.
De Niro colocou nas mãos de JR todo os diários de seu pai e de sua mãe, além das fotos de família. O resultado será uma espécie de documentário artístico que ainda não tem data para sair. “Estamos fazendo porque não sabemos onde vai chegar. Temos tempo, e seja qual for o fim, está bom”, diz o ator em uma das cenas exibidas no festival, nesta quarta-feira. Em outro momento, ele aparece em posição fetal deitado sobre uma foto de seu pai impressa em tamanho monumental, o tipo de instalação pela qual JR é conhecido no mundo.
A relação com o pai, seu xará e pintor, não foi simples. A dedicação à arte e a difícil relação com a própria sexualidade fizeram com que o pai fosse mais distante do que De Niro desejava como criança. Quando fez fama em Hollywood, o filho acabou deixando o pai em sua sombra.
Acumular suas fotos e escritos, então, pareceu uma forma de guardar pistas. “Guardei tudo porque queria que meus filhos soubessem quem meu pai era, e o quão importante foi para mim e para eles”, disse ele ao público. No processo de analisar o material familiar, descobriu que a mãe também era pintora, mas deixou de lado as ambições para auxiliar o pai e o filho em suas carreiras.
Por outro lado, mergulhar nas fotos e escritos o ajudou também a pensar na própria vida -e no fim dela. “Hoje, se desço as escadas, as pessoas tentam me ajudar”, diz. “Estou velho, mas me sinto em controle de mim mesmo. Esperaria que durasse para sempre, mas não vai.
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